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quarta-feira, 26 de julho de 2017

Um Banco Com o Nome de Brasil

                                                          J. Cavalcanti 

Há mais de 500 anos um Tratado decidia que o Brasil seria de Portugal, era uma época selvagem onde as nações não respeitavam leis e muito menos tratados, e nem todo ser humano era visto como humano, principalmente aqueles que não tinham nascido no continente europeu. Por este motivo nações como Holanda e França não levaram muito a sério o tal Tratado. Aliás, era um tempo tão atrasado que estas nações se achavam mais desenvolvidas e não tinham nenhum escrúpulo em invadir e fazer de outras suas colônias de exploração, fazendo de seus habitantes seus serviçais ou escravos, pois, como já dissemos, não eram lá muito humanos.
Estranhamente esse pessoal civilizado travava guerras entre si não muito civilizadas, e em 1808 a família real portuguesa veio fugida para o Brasil e fomos promovidos de Colônia a Reino Unido. Neste ano o Rei D. João VI fundou um banco e batizou-o com o nome da terra que tão docilmente vinha acolhendo os emissários da coroa portuguesa desde 1500. O Banco do Brasil.
CCBB RJ, prédio adquirido para ser a sede do BB em 1920.
Em 1821, devido a problemas de família, D. João VI volta a Portugal, não sem antes esvaziar os cofres do banco que fundou, deixando apenas o nome, que afinal pertencia aos brasileiros. Porém, naquele tempo (triste tempo!) os bancos não viviam só de nome e em 1833 ele foi liquidado. Só voltando a existir em 1851 e 1853, pelas mãos aristocráticas dos viscondes de Mauá e Itaboraí.
Passados mais de 500 anos de seu descobrimento e mais de 200 de sua fundação o Brasil e seu banco mudaram bastante, mas não necessariamente para melhor. Ou será que nada mudou, foi apenas tempo que passou?
Nos tempos da Casa Grande e Senzala, existiam os capatazes, feitores e capitães do mato que auxiliavam na administração das fazendas com ameaças, castigos e perseguições. Na administração moderna do BB, a reboque de sua reestruturação, os Superintendentes orientam aos gerentes gerais a utilizarem a GDP (gestão de desempenho e competência) como uma arma para o descomissionamento e demissão, ou seja, uma espécie de chicote invisível, mas igualmente doloroso e assustador.
Dizem os historiadores que os castigos impostos aos escravos deveriam servir de exemplo para seus companheiros de infortúnio, na reestruturação do BB, vários administradores que perderam sua comissão, ou seja, perderam cerca de 80% de seus proventos, ficam expostos no prédio da Rua Senador Dantas, só no Rio de Janeiro são quase 20, que lá estão para lembrar do que o banco é capaz.
Como podemos observar o banco e o país de mesmo nome continuam muito fiéis, pelo menos no tocante à administração de pessoas, às suas origens imperiais.

NÚMEROS IRRACIONAIS

Segundo os matemáticos, números irracionais são números decimais, infinitos e inconstantes, tal qual as metas impostas pelo banco aos seus funcionários. Que se tornam ainda mais irracionais em se tratando do Estado do Rio de Janeiro, estado mais do que quebrado financeiramente, algo que o próprio banco reconhece, uma vez que no decorrer dos anos vem efetuando um verdadeiro esvaziamento do Estado com setores inteiros sendo transferidos para outras capitais. 
Interessante perceber que quando se trata de explorar um pouco mais os funcionários, o banco não é tão fiel assim às suas origens na Casa Grande, pois os senhores de engenho não eram tão irracionais assim com sua produção, eles não decidiam aumentá-la 100% de um semestre para o outro, principalmente com um terreno improdutivo, e castigando seus escravos se não atingissem 110%.

MARAJÁS

Nos anos 1990 o país e o banco entraram definitivamente na onda liberalizante, seus funcionários são chamados de marajás e em 1995 o BB lança um PDV onde 20 mil foram demitidos voluntariamente, muitos até hoje estão com demandas judiciais para que o banco repare as injustiças cometidas neste período de terror.
A diferença entre 1995 e 2017, é que naquele ano a justificativa era que o banco estava dando prejuízo e os funcionários tinham salários muito elevados, os famosos marajás já descritos, e agora os salários estão rebaixados e o banco vem dando lucro, a única semelhança entre os dois resultados são as grandiosas somas provisionadas para créditos com liquidação duvidosa, em outras palavras, a história se repetindo como farsa. 
Centenas de agências foram desativadas este ano.
  Tal qual o país, o banco também é privado no lucro e público no prejuízo, outra inspiração dos tempos de Império, se a Casa Grande ia bem em nada mudava a vida na Senzala. Os tempos de lucros indecentes em nada influenciaram a vida dos funcionários, os salários não foram reajustados proporcionalmente a eles e o plano de saúde, CASSI, continuou com os mesmos problemas financeiros. Quando se trata de saúde, o nome pesa muito mais.
Infelizmente não conseguimos achar elementos que nos provem que as mudanças ocorridas no decorrer desses anos foram para melhor, a história do Brasil e do seu banco é uma história de injustiças para com seu povo/funcionários, mas se este povo gritou nas ruas do Rio de Janeiro “olho vivo, pé ligeiro, vamos a bordo pegar nosso dinheiro”, quando o banco sofreu seu primeiro assalto em 1821, gritemos hoje a plenos pulmões “olho vivo, pé ligeiro, vamos agora pegar nosso direito”.
 

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