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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Ilusões de classe

Não defendo Dilma, muito menos o Lula ou qualquer governo do PT. Defendo os avanços democráticos que conseguimos a duras penas e às custas de vidas de seres humanos dignos de respeito e glória, face o enfrentamento com a ditadura empresarial-militar. Esses avanços corroboram para a luta pela emancipação da classe operária, o fim da exploração do homem pelo homem.

Hoje, diante da complexa conjuntura que vivemos, não podemos ter ilusões de classe: são duas correntes pró-capitalistas disputando a gerência do Estado, e todas as benesses que isso representa. A grande – e fundamental – diferença é que uma, mal e porcamente, ainda resguarda alguns dos avanços conquistados desde o fim da ditadura e a Constituição de 1988, enquanto a outra significa rasgar toda a luta do povo em mais de 21 anos de embates contra essa mesma ditadura.

Há uma baboseira nas redes sociais de afirmar que com Dilma era bom assim e assado, enquanto com Temer será ou já está sendo tudo de ruim. Temer é pior, claro que é, mas Dilma e o PT não são anjos, vêm prejudicando os trabalhadores e o país desde que chegaram ao poder. Não caber listar o quanto e o tanto, quem quiser basta pesquisar um pouco e ficará informado.

O que mais impressiona e deixa um gostinho amargo é ver ex-camaradas, bons combatentes, perdidos e iludidos com as trombetas do capitalismo. Continuam acreditando que devemos priorizar alianças com setores da burguesia, até mesmo com o capital financeiro, para conseguir alguns anéis descartáveis. Perderam, há muito, a perspectiva revolucionária, esqueceram a luta de classes e apostam em pequenos avanços, nas migalhas que caem dos pratos da elite. Lembram os cachorros embaixo da mesa.

Poderia fazer aqui uma imensa e quase interminável relação de denúncias dos males que seus governos, dos seus partidos, protagonizaram ao longo dos seus 13 anos no poder. Perda de tempo. No fundo, no fundo, eles sabem. Se não sabem, não vale a pena perder tempo com eles.

Quem acredita, assim como a ONU e a OIT, que ganhar R$ 12 por dia é estar acima da linha da miséria, ou ter um salário mensal de R$ 900 é sair da pobreza, adotou parâmetros capitalistas, perdeu o rumo. E tem a cara de pau de dizer que seus governos, seu partido social-democrata tirou o país da miséria. Fazem coro com o que há de pior no planeta.

Entre eles e, infelizmente, algumas correntes de esquerda realmente combativas, surge agora o clamor por eleições gerais. Sem dúvida, o Congresso Nacional e a Presidência estão em situação insuportável, dramática. O congresso foi tomado por empresários do campo e da cidade, que não representam a população. Além deles, ainda se fazem presentes os representantes do capital financeiro, das indústrias, a famosa bancada da bala, da bola, da bíblia e do boi. Um escárnio. O interino é um golpista não confiável, inelegível por oito anos. Inacreditável! A presidente Dilma, por sua vez, traiu seu discurso de campanha, adotou os interesses do capital e ainda assim não aprendeu: fala em alianças com a burguesia caso volte a governar.

O problema de eventuais eleições gerais é que as regras serão as mesmas, ou seja, os mesmos partidos de sempre são os únicos com reais possibilidades de eleger deputados, senadores, cargos executivos etc. É o principal erro da Constituição de 1988, ter mantido as regras da ditadura para as eleições em todos os níveis. Praticamente impossível os partidos realmente combativos conseguirem espaço nesse terreno minado.

Se somarmos a isso o fato do Judiciário ter se mostrado não confiável e sujeito a negociatas, como as que promoveram o impeachment, é fácil concluir: é impossível realizar as mudanças que o país reclama no atual sistema. Não nos moldes do sistema capitalista.
A única saída viável está prevista na Constituição, em seu Artigo 1º, Parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Está na hora de exercermos o poder diretamente, rumo à liberdade, ao fim da exploração do homem pelo homem.

Afonso Costa
Jornalista.

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