PCB-RR

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Carta aos brasileiros da esquerda

Carlos Latuff*
 
Afinal, Dilma Rousseff garantiu mais um mandato, derrotando o tucano Aécio Neves. Foi por um triz, como na eleição de 2010, ao enfrentar o também tucano José Serra. Naquele ano, como agora, votei em Dilma, não por apoiar a agenda de seu governo e sim por acreditar que, as coisas podem não melhorar mas certamente podem piorar, e no meu entendimento, Aécio Neves simboliza o retrocesso, o agravamento de um problema.
 
 
Meu voto não é um cheque em branco à Dilma e seu partido, nem tão pouco é um voto de confiança no sistema eleitoral. Com sua política de alianças com o que há de mais patife na política brasileira, o governo de Dilma Rousseff não me representa, como também não representa os indígenas e quilombolas, estes sequer citados nos debates e propagandas dos candidatos. Quero crer também que não representa os moradores de favelas cuja ocupação por tropas do exército foi autorizada pela presidenta. E acredito ainda que não representa a parcela do movimento social que não foi cooptada pela máquina do governo.
 
Claro que me agrada aos olhos ver os "coxinhas" se consumindo no próprio ódio ao saber que a "ditadura comunista do PT" terá um fôlego adicional de 4 anos, mas não tenho qualquer esperança de que o Partido dos Trabalhadores, com todos os compromissos firmados com o agronegócio, banqueiros, empresários, e mesmo a "guerra contra as drogas" de Washington, possa retomar as velhas bandeiras de luta do movimento social. O movimento social no Brasil precisa livrar-se dessa polarização entre PT e PSDB, livrar-se da cooptação, e trabalhar por uma alternativa à esquerda, uma alternativa que não busque como meta o governo e sim o poder. Acabar de vez com essa oligarquia, com o coronelismo, com o poder de famílias que possuem terras, emissoras de TV e rádio, e mesmo estados inteiros. São estes os verdadeiros detentores do poder no Brasil.
 
Quanto a mim, retorno agora à oposição de esquerda e continuo colocando minha arte a serviço do movimento social. A quem acredita que pelo meu voto crítico eu aderi ou capitulei ao governismo, peço que refreie sua leviandade e guarde essa carta como referência futura.
*Carlos Latuff é cartunista.
 
http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/414-batalha-de-ideias/52145-carta-aos-brasileiros-da-esquerda.html

Metástase da corrupção e eleição da hipocrisia

Na ausência de diferenças substanciais, o debate do 2º turno das eleições presidenciais tem sido dominado pelo esforço mútuo de desconstruir a idoneidade do adversário. As acusações recíprocas de malversação de dinheiro público e de aparelhamento do Estado não têm fim. A cada ataque corresponde um contra-ataque. O “mensalão” petista é rebatido com o “mensalão” tucano. O “propinoduto” da Petrobrás, com o generoso “trem da alegria” da Alstom. É cara e coroa.
 
Os candidatos defendem-se de maneira conhecida. Negam peremptoriamente qualquer malfeito e juram ir até as últimas consequências para apurar os fatos, definir as responsabilidades e punir os culpados, doe a quem doer. Até as pedras sabem que nada será feito. Os denunciados são homens-bomba. Se abrirem a boca, a casa cai.
 
O próprio conteúdo do debate revela a cumplicidade dos candidatos com o sistema da corrupção. Ao personalizar e particularizar os escândalos, associando-os a desvios de conduta individuais, lacunas na legislação e falhas nos procedimentos de fiscalização, o discurso sugere que a pilhagem do Estado decorre de problemas que poderiam ser corrigidas caso houvesse vontade política. Enquanto falam, Dilma e Aécio sabem que mentem. Não existe um chefe político brasileiro que não tenha à sua sombra a figura sinistra e misteriosa do “operador” responsável pelas finanças da campanha. Nas altas esferas do poder, o homem do dinheiro é conhecido e goza de grande prestígio entre os pares.
 
Travestida de guardiã dos interesses gerais da população e defensora da moralidade, a mídia é parte orgânica do sistema de corrupção. Sem um sistema venal e degradado de formação da opinião pública não haveria corrupção generalizada como modo de funcionamento do sistema político, pois não haveria como circular (ou deixar de circular), no momento conveniente, as denúncias, dossiês, intrigas, insinuações, ameaças e chantagens que constituem a munição pesada da guerra entre as camarilhas que disputam o poder do Estado.
 
A luz intensa lançada sobre os escândalos de corrupção não tem a finalidade de elucidar o problema, mas, antes o contrário, objetiva desviar a atenção para aspectos secundários e personagens de menor relevância, a fim de ofuscar as relações que explicitam as engrenagens que subordinam os homens de Estado à lógica dos grandes e pequenos negócios. Ventríloqua de interesses escusos que permanecem sempre na penumbra, a grande mídia manipula a opinião pública com informações parciais, distorcidas e descontínuas, gerando uma visão apocalíptica e moralista do problema. Ao reduzir as causas do assalto aos cofres públicos à fraqueza de caráter, a corrupção é naturalizada. A imprensa marrom – quase a totalidade de nossa imprensa – esbalda-se e transforma a indústria da chantagem num grande negócio. “Se ninguém tem compostura, então, nos locupletamos todos” – uma moral que calha bem com a degeneração da res pública.
 
Se houvesse realmente vontade política de enfrentar a corrupção, seria preciso mostrar à população seu caráter sistêmico e desnudar os interesses de classe que lhe dão sustentação. Para tanto, bastaria não desperdiçar as raras oportunidades abertas pelos homens bombas que quebram o pacto de silêncio e expor à população a fisiologia que rege o aparelho digestivo do sistema político brasileiro.
 
A propósito, os depoimentos recentes do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef são pérolas que deveriam ser bem aproveitadas. Seus testemunhos ao Ministério Público expõem com requintes de detalhes como funcionava e quem comandava o esquema de desvio de recursos na Petrobras. As primeiras lições são reveladoras:
 
a) A corrupção é um sistema que aprisiona os partidos políticos da burguesia e os aparelhos de Estado aos interesses do grande capital. Por trás da quadrilha que se apoderou de cinco diretorias da Petrobras, encontram-se os partidos da base de sustentação do governo federal e treze grandes empresas, entre as quais as principais empreiteiras do país - OAS, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior e Camargo Correia;
 
b) O centro nervoso que comanda as grandes negociatas encontra-se no controle do Legislativo pelo poder econômico e no controle do Executivo pelo Legislativo. Ainda no começo do governo Lula, em 2004, uma greve parlamentar de noventa dias forçou o presidente a nomear Paulo Roberto Costa, com mandato meticulosamente definido para arrecadar recursos para os partidos da base. É a prova dos nove de que a chamada “governabilidade” requer necessariamente conivência e cumplicidade incondicionais com a corrupção;
 
c) A corrupção é um sistema que envolve todos os partidos da ordem, mesmo os da oposição. A propina paga a altos cardeais do PSDB para que colaborassem na operação abafa da CPI da Petrobrás no Senado Federal deixa patente que ninguém escapa aos tentáculos da corrupção. A guerra de acusações recíprocas é uma farsa. No jogo do toma lá dá cá, a arte da política transforma-se na arte da malandragem e da impostura.
 
O debate eleitoral da corrupção não pode ser levado às últimas consequências porque a população não pode saber que a corrupção é um pressuposto do sistema representativo. Pois a promiscuidade entre o público e o privado – seu determinante histórico – é uma das pedras angulares da organização do Estado brasileiro.
 
Fonte:www.correiocidadania.com.br
 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Brasil perdeu

Os dados são claros e deixam uma mensagem: há uma maioria política conservadora a ditar os rumos do país, existe uma maioria esmagadora da população sem consciência de classe e de qual é seu real caminho para superar suas dificuldades e transformar o Brasil.
 
As duas candidaturas representaram duas faces de uma mesma moeda, com pequenas filigranas e diferenciá-los: Aécio propôs o esvaziamento dos bancos públicos, a volta do estreitamento de relações com os Estados Unidos e a ampliação das privatizações, do pouco que ainda resta de público, particularmente do Pré-Sal, menina dos olhos de Obama.
 
Em seu primeiro discurso como reeleita, Dilma também não disse nada de novo: defendeu uma reforma política que não reforma nada e propôs manter as políticas sociais até então implementadas, aquelas de dar poucos anéis para manter os dedos, braços e corpo nas mãos das transnacionais.
 
O mais preocupante em seu discurso, ainda bem que o ouvi antes de jantar, foi a defesa da manutenção da parceria com o agronegócio e com o setor financeiro. Merece o novo congresso que ganhou.
 
Não curiosamente ambos defenderam o diálogo, afinal “Mé e Bebé” têm que conversar. São farinha do mesmo saco. Tanto isso é verdade, que ganhasse quem ganhasse o ano que se avizinha é preocupante, pois ambos ainda rezam a cartilha neoliberal do FMI. Com o déficit público e a inflação elevados, o crescimento econômico pífio, a imensa concentração de capital e a queda do consumo interno, tudo indica que 2015 será sujeito a arrocho salarial, dinheiro escasso e trovoadas. A chuva, só São Pedro sabe.
 
O preocupante da campanha e ao mesmo tempo alentador, foi que a direita raivosa voltou a ocupar acintosamente o cenário político. A radicalização de parte dos eleitores de Aécio deixa claro que o monstro da “tradição, família e propriedade” continua bem vivo, disposto ao que for preciso para retomar o poder.
 
Um coronelzinho de São Paulo chegou a sugerir colocar um muro separando os eleitores do Nordeste, Rio de Janeiro e Minas; do Sul, Noroeste e Centro-Oeste, em alusão aos votos em cada candidato. O desalento dos comentaristas e apresentadores do principal canal de televisão do país foi hilário. Alguns pseudo intelectuais – um conservador não pode ser efetivamente um intelectual – apresentaram as explicações mais estapafúrdias para justificar o resultado das urnas.
 
O preconceito contra a aristocracia operária se manifestou claramente na mídia empresarial. Assim como a velha aristocracia tinha preconceito com a nascente burguesia, a velha burguesia tem preconceito com a aristocracia operária, por mais que ambos tenham a mesma política ideológica em comum.
 
Enquanto isso, o povo comemorou em algumas ruas, chorou em outras, assistiu a um espetáculo ao qual é convidado a participar quando é necessário dar uma roupagem de democracia à ditadura do capital.
 
A vontade de mudanças das manifestações de 2013 se perdeu em meio às falsas promessas dos candidatos, já que tudo continuará como antes. Mas nem tudo está perdido, pois a lição que ficou foi aprendida e em breve o povo brasileiro retornará às ruas. Não há alternativa.
 
 
Afonso Costa
Jornalista

domingo, 26 de outubro de 2014

Campanha Salarial Bancária 2014: Um desfecho previsível.

A greve de 2014 apresentou um pouco mais do mesmo. Foi deflagrada em assembleias que,  se não podem ser chamadas de esvaziadas, tiveram um quórum muito aquém do que poderia se esperar para o início de uma paralisação que se propunha a enfrentar o setor burguês mais poderoso do Brasil e terminaram em assembleias melancólicas e esvaziadas onde nem mesmo os que fizeram “greve de pijama” se esforçaram para comparecer.
 
O resultado não  poderia ser outro: continuamos com um piso salarial que é,  para dizer o mínimo,  indigno.  Diante de uma classe patronal que a cada 4 anos dobra o seu patrimônio líquido, que paga sua folha salarial só com tarifas e que lucrou só no primeiro semestre mais de 37 bilhões de reais,  recebemos a proposta aviltante de 8.5% de reajuste.  Não conseguimos nada em relação a um plano de carreira que garanta aos bancários a incorporação das comissões aos salários, ou seja,  permanecemos reféns das comissões.  Também nada avançamos na garantia do emprego dos bancários.  Os banqueiros, com toda certeza, seguirão demitindo e descomissionando em massa para garantir os seus lucros aterrorizando a categoria.
 
Tudo isso é o resultado mais do que previsível do modelo de organização e (dês)mobilização  adotado pelos que hoje dirigem a maioria dos sindicatos de bancários pelo Brasil afora e também a CONTRAF.
 
Crise Capitalista se agrava: Mais ataques adiante
As perspectivas para os próximos anos não são boas para os trabalhadores mundo afora. A medida que a crise do capitalismo nos países centrais não se resolve,  cada vez mais, os seus efeitos nefastos são sentidos por aqui. A economia anda de lado com um crescimento mínimo, que beira a recessão. A ameaça do desemprego emerge com força total. Diante da crise os capitalistas já põe em movimento os seus projetos para diminuir o “custo Brasil”: terceirizações, precarização das relações trabalhistas, demissões etc.
Os bancos, que não precisam de crise para cortar custos, irão ampliar ainda mais as demissões e terceirizações.
Eleições: Com Dilma ou Aécio a ameaça persistirá
Dentro deste contexto acontece uma eleição presidencial onde as duas candidaturas que se apresentam já demonstraram de que lado estão.  O PSDB de Aécio governou oito anos para os banqueiros, com juros estratosféricos, socorros bilionários para banqueiros ladrões e falidos, reajuste zero para os bancos públicos e demissões em massa para os bancários privados.  Com o  PT de Dilma os bancos nunca lucraram tanto, as demissões em massa continuam e o modelo de gestão privada, com todo o terror que ele representa, está sendo implantado com força total nos bancos públicos.  Trocando em miúdos, os bancários não podem depositar esperanças em nenhuma das candidaturas. 
 
Organização e luta para resistir e avançar
A lição que fica desta melancólica greve é que precisamos mudar urgentemente o rumo, pois com este grau de organização e participação estamos desarmados para enfrentar os ataques que virão.  É óbvio que com estas correntes que hoje estão  à frente da maioria dos sindicatos e da CONTRAF a luta fica ainda mais difícil. Contudo, se os bancários não tomarem para si o controle da sua luta, este modelo burocrático, antidemocrático e derrotado de movimento sindical, representado pela direção majoritária da categoria, continuará se perpetuando dentro dos sindicatos, trazendo ainda mais derrotas, desconfiança e apatia para os bancários e bancárias.
Organizar, Lutar e vencer. Este é o caminho!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Ney Nunes Candidato a governador pelo PCB

Os bancários estão em greve. Enfrentam a ganância do setor econômico que mais lucra no Brasil. Os bancos nos últimos quatro anos dobraram seu patrimônio, os quatro maiores lucraram mais de vinte bilhões de reais em 2013. Beneficiam-se da política desse governo de alavancar o consumo através do endividamento da população, ou seja, estimulando a agiotagem que explora nosso povo.
 
 
Essa rentabilidade vem sendo incrementada, também, à custa dos baixos salários, das demissões rotineiras e da pressão violenta por metas. Os meus colegas dos bancos públicos, em especial no Banco do Brasil onde trabalho, sofrem com a terceirização e as reestruturações, medidas que preparam a privatização dessas instituições.
 
 
Manifestamos nossa total solidariedade nesse momento de luta dos bancários, apoiando suas justas reivindicações, assim como, reafirmamos nosso compromisso em defesa dos bancos públicos e pela estatização do sistema financeiro.

Ney Nunes
Candidato a governador pelo PCB