PCB-RR

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Coração Valente

Estava de recesso, descansando até o próximo dia 5, quando retomo o trabalho. Infelizmente, a presidente Dilma e seu ministro-chefe não deixaram continuar de folga. Tomaram uma atitude corajosa e resolveram corrigir distorções históricas da Previdência Social, como o seguro-desemprego, o auxílio-doença, as pensões e até arrolaram os pescadores artesanais, devidamente enquadrados.
                       
Como publicou este MM, o corte de direitos correspondente a R$ 25 bilhões anuais, cerca de 25% do superávit primário de 2015. Os pobres coitados dos agiotas nacionais e internacionais agradecem.

O pacote de final do ano não se restringe à presidente. A conta de luz aumentou, as mensalidades escolares também, os preços das passagens de ônibus nem se fala, e até o salário mínimo mudou, mas foi só corrigido, afinal R$ 3,58 por hora trabalhada é o limite que as empresas e os governos podem pagar. A Constituição? Ora, dane-se a Constituição.

É a primeira medida de impacto do ministro das transnacionais indicado pela presidente, que sequer assumiu. Imaginem quando ele estiver à frente da pasta. Podem ter certeza, outras medidas contrárias ao povo vêm por aí.
O PMDB, bom malandro, não quer assumir a relatoria do projeto na Câmara. Propõe que um deputado do outrora Partido dos Trabalhadores o faça e arque com as conseqüências. Nada mais justo.

A chamada oposição – que só se opõe a quem ocupa a cadeira no Palácio do Planalto – já manifestou sua discordância com o corte de direitos. Possivelmente proporá atacar ainda mais os dependentes da Previdência, apesar do discurso de pretender defendê-los. É pura mise-en-scène para inglês ver. Os dois são farinha do mesmo saco.

O cenário ainda se compõe com texto de um articulista de um jornal do Rio de Janeiro, que especula sobre uma possível depressão da presidente, que andaria chorando pelos cantos. O contraponto veio de bate-pronto: uma foto de Dilma Rousseff sorrindo em uma praia no Nordeste. Afinal, foi lá que ela teve a maior votação proporcional no segundo turno.

Dá pena e pasmeira saber que muitos trabalhadores honestos, militantes históricos, outrora defensores do povo e da democracia fazem coro à presidente e seu partido. Estarão em pé vendo sua posse, vestidos de camisetas vermelhas estampadas com a foto de Dilma de óculos, do tempo que era revolucionária. A mesma utilizada na reta final do segundo turno quando, desesperada, usou sua antiga imagem para sensibilizar setores da esquerda e vencer a eleição.

O pobre do William Wallace se remexe nas inúmeras imagens que o saúdam como herói escocês, enquanto nós, aqui, também nos remexemos, indignados com tanta subserviência ao capital.

Se Dilma viu Braveheart possivelmente não gostou.

Afonso Costa
Jornalista


domingo, 14 de dezembro de 2014

Cuidado, 2015 vem aí!


Na terça-feira (16) ocorre a primeira audiência judicial na qual 20 manifestantes são acusados de perturbar a ordem, incitar a violência, formar quadrilha etc., em ato às vésperas da final da Copa do Mundo. As prisões foram consideradas inconstitucionais e sem fundamento legal, segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Anistia Internacional.

Já na semana passada, o deputado Jair Bolsonaro agrediu uma deputada do PT, com ampla repercussão na internet, mas não tão abrangente assim nos meios de comunicação empresariais.

No Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, a Comissão da Verdade entregou relatório responsabilizando ex-presidentes da República e militares do alto escalão, entre outros, pelos crimes cometidos durante a ditadura militar-empresarial. Em destaque, a constatação de que os três maiores jornais do país apoiaram explicitamente o regime, sendo que um deles teria financiado a Oban – Operação Bandeirantes – e utilizado seus carros para sequestrar vítimas dos porões da tortura.

Fato inusitado veio da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, na qual o vereador Carlos Bolsonaro (PP) tentou intimidar o vereador do PSol, Renato Cinco. O vídeo correu a internet devido a coragem e lucidez com que o último enfrentou o filho do deputado Jair Bolsonaro, conhecido pela truculência e defesa da ditadura.

Somando-se a esses fatos as patéticas manifestações da extrema-direita propondo o impeachment da presidente da República e o retorno da intervenção militar, temos o cenário político no qual o país se encontra após a votação no congresso da elasticidade para o cumprimento do superávit primário.

Os principais partidos conservadores – PSDB, DEM e PPS – não se manifestaram sobre nenhum dos fatos políticos recentes. Mas sobre a garantia de pagamento para os grandes agiotas nacionais e internacionais travaram uma verdadeira batalha no congresso, apoiados justamente pelos três jornais citados como aliados do golpe militar-empresarial, com suas respectivas teias na rádio, televisão e internet repercutindo a defesa do sistema financeiro.

Sistema esse que nunca esteve ameaçado, ao contrário, está cada vez mais fortalecido, vide a indicação da equipe econômica do novo governo e a pífia previsão de crescimento de 0,8% do PI B em 2015.

A cereja do bolo, porém, não é o choro da presidente Dilma, mas sim sua defesa da lei da Anistia, do não revanchismo como chamam os defensores dessa mesma ditadura. O destaque é o silêncio dos militares, que preferiram manter-se calados diante das provas irrefutáveis da participação de vários de seus membros e da utilização de muitas de suas instalações para atos de barbárie absolutamente condenáveis. Bom cabrito não berra.

Essas variáveis tão constantes levam à conclusão que o país deu uma  guinada à direita sem precedentes desde o AI-5. As forças conservadoras no essencial mantêm-se unidas na defesa dos interesses do capital, radicalizando cada vez mais sua ofensiva contra qualquer iniciativa de cunho popular. A sanha anticomunista tomou proporções inadmissíveis. Equador, Bolívia e Venezuela, principalmente a última, são sinônimos de fracasso, de alerta, de perigo. A mídia empresarial esconde propositalmente os avanços sociais e econômicos alcançados por esses países, enquanto enaltece o neoliberalismo e as nações que o propugnam, ainda que as mesmas convivam com forte crise.

As perspectivas para 2015 são as piores possíveis, com redução dos  investimentos governamentais, prioridade para o pagamento da dívida pública, arrocho salarial, crescimento econômico pífio - se é que vai haver -, ataques às conquistas dos trabalhadores e da população em geral, e até mesmo perda de direitos, com aumento ainda maior da concentração de renda e do capital, apesar das aleivosias decantadas pelos governistas.

Se lembrarmos o fiasco do segundo mandato do presidente Lula, que aplicou o receituário neoliberal a fundo e elegeu Dilma apenas devido a seu carisma e identificação com o povo, temos a certeza que o ano vindouro será de muitas dificuldades para os trabalhadores.

As cartas já foram distribuídas e não nos são favoráveis.

Afonso Costa
Jornalista

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A TIRANIA DE EDUARDO PAES A SERVIÇO DO PARTIDO DOS GRANDES



O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, é notoriamente conhecido pelo destempero. Dotado de um comportamento similar ao de uma criança mimada e "umbigocêntrica" – lançando cinzeiro em assessores, insultando correligionários eenvolvendo-se até em briga na rua –, Paes não sabe lidar com o contraditório e os questionamentos às suas decisões.
Com grupos e opiniões divergentes não dialoga, não negocia. Impõe seus pontos de vista à força. Professores entraram em greve? De imediato corta integralmente os salários e depois aplica descontos por meses, como tem feito desde o fim da greve do professorado da rede municipal, em junho deste ano. Garis em greve, em pleno carnaval? Demissões são realizadas, como, ainda hoje, têm denunciado os funcionários da empresa municipal de limpeza urbana, a Comlurb.
Negociar uma pauta de reivindicações, ouvir as queixas e os problemas que os trabalhadores municipais indicam é pedir muito ao prefeito. Paes toma imediatamente essa ordem de atitudes naturais na administração pública como desfeita pessoal. Por isso, o seu negócio é entrar em queda de braço para demonstrar quem manda. Não pode ser contrariado. Aplica punições arbitrárias, ao arrepio da lei, visando acabar com qualquer capacidade crítica.
O leitor, sobretudo de outro estado, pode imaginar que se trata apenas de um comportamento "ríspido", mas restrito aos funcionários públicos e aos correligionários. Portanto, seria apenas um problema de estilo, envolvendo questões administrativas e corporativas, que não interessariam à população carioca, menos ainda a coletividades de outros lugares.
Ao contrário, interessa tanto aos cariocas, quanto aos leitores de outros estados. Integrante do PMDB, contando com o suporte sistemático das Organizações Globo, que só apresentam notícias positivas do seu governo, Paes tem seu nome ventilado para postular voos mais altos na cena política nacional. As Olimpíadas de 2016, a serem realizadas no Rio, consistirão em vitrine das suas pretensões.
Eduardo Paes tem adotado múltiplas medidas que afetam seriamente aos interesses e à qualidade de vida da população carioca. Em nenhum momento consultou a opinião dos "impactados" por suas ações. Dialogar e ouvir não é com o prefeito, também em relação à população.
Tem privilegiado a construção de corredores exclusivos de ônibus articulados (BRT) como solução para o transporte público. A experiência na zona oeste da cidade, com a Transoeste, tem sido amarga. Retirou linhas tradicionais de ônibus e concentrou os usuários no BRT. Sem criar alternativas de transportes realmente de massas, a superlotação é o resultado óbvio e visível.
A demora nos deslocamentos, que consegue ser maior do que antes, além do desconforto, afeta a qualidade de vida das pessoas. São mais horas perdidas no trânsito e na espera pela viagem, com inúmeras baldeações. Menos tempo de lazer, estudo, descanso e convivência familiar. Por outro lado, a "redução da capacidade ociosa dos ônibus", como dizem as empresas, e a diminuição de empregos no setor, ampliam a margem de lucros dos empresários.
Nada disso interessa ao prefeito. Um outro corredor exclusivo do BRT, mais recentemente posto em operação (Transcarioca), ainda não fez os usuários se depararem abertamente com o problema da superlotação, por conta da manutenção das linhas convencionais. Ainda há opção. Por enquanto.
Nesse sentido, cabe indagar: o prefeito conversou com alguém? Deu-se ao trabalho de consultar a população e aos usuários? Bobagem. Paes não dá satisfação pública. Ademais, outra consequência social, que tem chamado a atenção com as obras associadas à criação dos BRTs, é a remoção de casas populares. Somente com a Transcarioca, cerca de 2000 famílias foram desalojadas, de acordo com dados oficiais. Há pouco (04/12), 9 famílias perderam suas casas devido às obras do BRT . Mais outras tantas, pertencentes a tradicionais comunidades pesqueiras, correm o risco de serem removidas, na região de Jacarepaguá, por conta das obras voltadas às Olimpíadas e à especulação imobiliária, como tem questionado o vereador Renato Cinco (PSOL).
O meio ambiente também é submetido à lógica especulativa do lucro e à inexistência de diálogo com a população. Área de proteção ambiental no bairro da Barra da Tijuca foi destinada à construção de um golfe clube para as Olimpíadas. Por isso, nesse final de semana, sob o lema "Golfe não! Reserva sim!", ativistas estiveram em frente à área para protestar.
Por conseguinte, Eduardo Paes tem criado um caos na cidade, com diversas obras que não guardam qualquer relação com os interesses da população. O que tem feito no centro da cidade é um verdadeiro descalabro. Fechou vias importantes, tornando uma via crúcis chegar ao centro e fazer a ligação entre as zonas norte e sul da cidade. Lotar ruas estreitas do século XIX, com ônibus e carros, tem sido a "solução". Evidentemente, um problema que afeta a circulação em toda a cidade.
Notabilizado por declarações bombásticas, mas igualmente infelizes, a última do prefeito foi: "A perimetral era como o Muro de Berlim, que separava a cidade da sua razão de existir que é a Baía de Guanabara" (O Dia, 05/12/2014). A perimetral foi um longo viaduto que passava à margem do centro da cidade e que ligava as zonas norte e sul. Foi demolida sob a alegação de que "enfeava a região portuária". Agora a região está reservada a empreendimentos imobiliários.
Houve alguma consulta à população? A demolição da perimetral suscitou expressiva controvérsia entre os cariocas. Mas o prefeito dignou-se a ouvir as pessoas? Não. "Nada pessoal, são apenas negócios", diria o célebre personagem do cinema, Dom Corleone.
A comparação com o muro de Berlim, parcialmente, foi infeliz. Infeliz devido a inexistência de qualquer relação entre os contextos históricos, as realidades em questão. Mas, digo parcialmente porque, vindo de Eduardo Paes, a comparação não deixa de ser um ato falho. Possui um interessante significado: expressa sua concepção sobre a cidade.
Como sabemos, o muro de Berlim correspondeu a uma divisão territorial, cultural, econômica e política entre blocos de países. Um símbolo da guerra fria. Contudo, no caso de Paes, a demolição da perimetral corresponde não ao fim de um "muro" que dividisse a cidade, como pretende sugerir. Pelo contrário. Invertendo os termos do que disse o prefeito, dá para entender o seu balbucio de analogia histórica. Na verdade, traduz a destruição da mais importante via que ligava as zonas norte e sul.
Limitar os fluxos de circulação entre as duas áreas – a suburbana e a nobre – reflete um velho anseio das forças sociais retrógradas do Rio de Janeiro. Brizola, em seu primeiro governo no estado (1983-1987), gerou uma grande polêmica quando introduziu linhas de ônibus que faziam tal ligação, facilitando o acesso dos moradores da zona norte às praias. Na contramão, um novo muro social na geografia da cidade é o que tem sido criado por Paes. Acabar com a perimetral, sem a criação de opções, é introduzir barreiras à circulação no espaço urbano carioca.
O Rio, marcado por um potencial libertário de interlocução entre as diferenças culturais e sociais, vê-se, cada dia mais, defrontando-se com uma lógica autoritária que inibe a circulação das pessoas na cidade. Uma lógica que cria obstáculos para os fluxos de trocas culturais, simbólicas e o acesso às áreas que praticamente concentram os bens culturais e de entretenimento dos cariocas. A privatização do espaço público e a gentrificação têm sido intensificadas.
Não há qualquer diálogo com a sociedade. O modelo de cidade instaurado é definido com os interlocutores que interessam: os agentes da especulação imobiliária, as empreiteiras, os donos de empresas de ônibus e a Globo, ou seja, o Partido dos Grandes. Mas, quem paga a sofrida fatura é a maioria da população.
A estreita relação da Globo com Paes atinge, inclusive, o sistema educacional, com contratos sem licitação de mais de R$ 100 milhões com a Fundação Roberto Marinho. É o que denunciou recentemente o vereador Leonel Brizola Neto (PDT) ao Ministério Público.
O Partido dos Grandes possui o domínio exclusivo e está desenhando a cidade como bem entende. Tem o seu chefe, a cuja soberba e autoritarismo dá amplo apoio: Eduardo Paes. Como lembrava o velho Maquiavel, onde os grandes mandam, não há liberdade, apenas tirania. Uma tirania que faz a alegria de alguns e tem prejudicado o bem-estar da maioria. Adepto da concepção da "cidade-negócio", da "cidade-espetáculo", ouvir e dialogar com a população são itens desprezados na agenda de Paes.
ROBERTO BITENCOURT DA SILVA
Fonte:http://www.brasil247.com

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Um governo de classe.


Algumas notícias chamaram a atenção nos últimos dias, pois sucintamente explicam a real Economia brasileira.

A hilária fica por conta de um ex-roqueiro, comandando uma pífia manifestação na Avenida Paulista pelo impeachment do governo Dilma. Patético.

A outra curiosidade foi manchete de vários jornais, afirmando que o país saiu da recessão técnica porque o PIB cresceu 0,1% entre julho e setembro. O conceito de técnico é de quem o criou e o repete, já que uma simples caminhada nas ruas do Rio de Janeiro demonstra claramente que a economia vai de mal a pior, ainda mais no pós-copa, quando foram liberados os mendigos e os meninos de rua, desaparecidos aos olhos dos turistas que vieram se divertir nos 7 x 1.

A manutenção do imenso grau de informalidade no trabalho, segundo a OIT, é a mais preocupante, pois já passa dos 50% do emprego, ou seja, os trabalhadores continuam desassistidos, largados à própria sorte. Isso, apesar do conceito da Organização Internacional do Trabalho que considera o microempreendedor como um trabalhador assistido, em que pese a maioria não contribuir para a Previdência, não ter direitos trabalhistas e nenhuma garantia quanto ao dia de amanhã. Consubstancia-se assim a informalidade como algo produtivo no país do falso PIB e do falso índice de desemprego.

A contrapartida da precária situação são os bilionários em solo tupiniquim, que já respondem por 40,8% do patrimônio líquido da América Latina, de acordo com estudo da Bloomberg. O maior deles, Jorge Paulo Lehmann, com uma fortuna de US$ 24,8 bilhões, subiu cinco posições no ranking, sendo o 28 mais rico do planeta.

Tempero das notícias vem do site de um dos maiores jornais do Rio de Janeiro, que ostenta a notícia sobre o crescimento dos custos da Previdência no Orçamento Geral da União. Ao invés de destacar o principal aspecto, isto é, a obrigatoriedade do governo assistir a quem o sustenta, a matéria descreve o fato com certo ar sorumbático. Como sub, ou no meio do texto do destaque, vem a informação principal, de que o pagamento aos agiotas continua sendo o maior gasto da União. É de dar indigestão.

Como o melhor do banquete é sempre o último prato, as capas das maiores revistas semanais foram unânimes em aplaudir a escolha de Levy para o Ministério da Fazenda. A voz uníssona é que agora Brasil irá sair da crise porque equilibrará as contas públicas, garantindo o superávit primário, a mesada dos agiotas nacionais e internacionais. A mais reacionária das publicações, obviamente, destoa um pouco ao questionar se a presidente Dilma dará autonomia para o ministro radicalizar sua política neoliberal, falida em todo o planeta.

As redes sociais não deixaram de graça e questionam se o governo petista finalmente tucanou. Ora, isso o PT fez em março de 2002, no seu congresso semiclandestino, quando abriu mão de suas bandeiras históricas em prol da governabilidade. Os oito anos de Lula e os quatro de Dilma estão aí para comprovar o fato.

Entre Dilma e Aécio, assim como entre o PT e o PSDB, não existem diferenças ideológicas, quiçá políticas, apenas de saber quem será o garçom que vai carregar a bandeja da entrega das nossas riquezas para as transnacionais.

Haja epistemologia.

Afonso Costa
Jornalista

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O país nas mãos dos banqueiros e do agronegócio

Dilma chama representantes do agronegócio e dos bancos para compor ministérios

Nem começou o segundo mandato da presidente Dilma e as primeiras indicações do novo governo já mostram o caminho que ele tomará: o aprofundamento de uma política econômica que privilegia os bancos, as empreiteiras e o agronegócio. E quem vai pagar o pato, mais uma vez, são os trabalhadores e o povo pobre.
Nas mãos dos banqueiros
Contrariando o discurso de campanha, em que o PT investiu contra os banqueiros a fim de se contrapor a Marina Silva (Rede/PSB), e depois Aécio Neves (PSDB), a primeira determinação de Dilma já reeleita foi colocar um banqueiro no comando da política econômica. Uma sinalização ao mercado financeiro que seus interesses continuarão a ter centralidade.

O primeiro nome cogitado para assumir o Ministério da Fazenda foi Luiz Trabuco, presidente do Bradesco e nome próximo ao governo. Com a recusa de Trabuco, o segundo nome convidado foi seu colega, o diretor do Bradesco e ex-secretário do Tesouro no governo Lula, Joaquim Levy.
Nome de confiança do mercado financeiro, ex-aluno e próximo a Armínio Fraga e um dos colaboradores do programa do PSDB à presidência, Levy é conhecido por sua ortodoxia neoliberal. Ou seja, é o cara que faz de tudo e mais um pouco para garantir os lucros dos banqueiros e investidores internacionais.
Dizer que o nome anunciado como novo ministro da Fazenda é neoliberal pode parecer um tanto vago. O que de fato pensa Joaquim Levy? Vejamos. Em setembro último, Levy divulgou um documento sobre a situação do país e o que precisaria ser feito, em sua opinião, para melhorar a economia. Entre as propostas estão a "liberação da obrigatoriedade da Petrobras participar de todos os projetos do pré-sal", a defesa das concessões e privatizações do petróleo, as altas taxas de juros para controlar a inflação e, sobre relações trabalhistas, a defesa de forma explícita de "modificar a lei de forma que os contratos negociados entre as partes prevaleçam". Ou seja, em outras palavras, uma reforma trabalhista nos marcos do que propunha o ACE (Acordo Coletivo Especial).
O anúncio oficial da nova equipe econômica deve ocorrer na próxima quinta, 27, junto com algumas diretrizes da próxima gestão. Entre as medidas cogitadas está um duro ajuste fiscal, principalmente com um corte drástico entre o que é considerado pelo governo "gastos excessivos" do último período, como o seguro desemprego, abono salarial e pensões. Fala-se num corte da ordem de R$ 40 ou R$ 50 bilhões, só pra começar.
Nas mãos do agronegócio
Logo após Levy começar a ser aventado em Brasília, outro nome causou surpresa até entre integrantes do próprio governo. Parecendo uma daquelas notícias-piadas publicadas por sites de humor, foi noticiado que Dilma convidou a presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura. Essa piada, porém, não vai ter graça para os trabalhadores agrícolas, sem-terras, ribeirinhos, quilombolas e indígenas.

Kátia Abreu é a principal representante dos ruralistas, líder da bancada dos latifundiários no Congresso e inimiga confessa do movimento sem-terra e da luta por reforma agrária. Combate as políticas contra o trabalho escravo no campo, assim como é árdua defensora das sementes transgênicas e da Monsanto. Um projeto de sua autoria acaba com a obrigatoriedade da rotulação dos alimentos com sementes geneticamente modificadas.
Em seu mandato em Brasília, já foi agraciada com títulos nada abonadores, como o "Miss desmatamento" e o "Motosserra de Ouro", dado pelo Greenpeace. Ironicamente, a senadora foi apontada pelo próprio jornal britânico Guardian, como "a parlamentar mais perigosa do Brasil", devido o seu posicionamento em relação às políticas ambientais.
As inúmeras pérolas proferidas por Kátia Abreu no exercício do seu cargo poderiam preencher um longo compêndio sobre a forma como pensam os latifundiários. Uma delas, contida no documentário "O Veneno está ne Mesa", de Silvio Tendler (veja aqui), afirma que "milhares e milhares de brasileiros ganham salário mínimo, ou nem isso e, portanto, tem que comer alimento com defensivo sim, pois é a única maneira de fazer alimento mais barato". Ou seja, para a futura ministra da Agricultura, pobre tem que comer agrotóxico. Fazer a reforma agrária, acabar com o latifúndio e beneficiar a agricultura familiar, que é quem garante a produção de alimentos nesse país, na visão de Kátia Abreu, não baratearia os alimentos, mas os agrotóxicos sim.
A nomeação da presidente da CNA para a Agricultura é um balde de gasolina na já explosiva situação do campo brasileiro, em que os sem-terras, pequenos agricultores e indígenas vem sendo assassinados e encurralados pelo avanço do agronegócio.
Para completar esse verdadeiro trem-fantasma que o governo Dilma monta para seu ministério, o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), vem sendo fortemente cogitado para o poderoso Ministério das Cidades.
"Rezava uma lenda que o segundo mandato de Dilma Roussef, do PT, seria um novo governo com novas idéias", afirma o Presidente Nacional do PSTU, Zé Maria. "Mas se somamos os novos ministros ao aumento dos juros uma semana depois das eleições, ao aumento do preço da gasolina, ao ajuste fiscal que está sendo preparado pelo governo, temos aí um novo governo, sim, mas com as mesmas e velhas idéias de sempre", denuncia. 
 
Preparar as lutas
As indicações do futuro governo Dilma confirmam, junto com as medidas já tomadas como o aumento dos juros e da gasolina, os futuros desafios que os trabalhadores terão a partir do próximo ano. Cortes no Orçamento, arrocho e o avanço do agronegócio formam um quadro sombrio e reforçam a necessidade de preparar, desde já, as lutas para enfrentar esses ataques.

Fonte:http://www.pstu.org.br

domingo, 23 de novembro de 2014

Demitiram a raposa

Maior representante do agronegócio, a senadora Kátia Abreu (PMDB-GO) é dada como indicada pela presidente Dilma para ser a próxima ministra da Agricultura. Parece contraditório, mas não é.
 
Kátia Abreu é defensora da concentração de terras nas mãos de poucos produtores rurais. Luta incansavelmente contra a reforma agrária. Defende a utilização de agrotóxicos e de sementes de laboratório, apoiadora de primeira hora da multinacional Monsanto.
 
É a favor do desmatamento desenfreado, da especulação via terras improdutivas, do arrocho e más condições de trabalho para os trabalhadores rurais, enfim representa o que há de mais atrasado no campo.
 
Maior expressão da bancada ruralista, sua indicação garante – em troca de mais concessões -  apoio ao governo no congresso nacional de parlamentares de vários partidos, pois é assim que os ruralistas atuam, não se organizam em um único partido, pois temem vir a público defender suas idéias e práticas antipopulares.
 
O código florestal, a PEC do trabalho escravo, os financiamentos públicos para os grandes produtores rurais e todos os temas ligados à questão da terra encontram na senadora uma ardorosa defensora dos privilégios alcançados no primeiro governo Dilma. Agora, eles querem ir ainda mais longe, afinal o Brasil é um dos celeiros do planeta.
 
Não satisfeita com tal submissão à elite, a presidente Dilma convidou Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, para ser o novo ministro da Fazenda. Com a sua negativa a bola da vez passou a ser o superintendente do Bradesco Asset Management, Joaquim Levy, ex-secretário do ex-ministro Antonio Palocci, de triste memória. Como presidente do Banco Central deve continuar Alexandre Tomibini.
 
Cotado para o Ministério do Planejamento, Nelson Barbosa já ocupou vários cargos na área econômica do governo federal, tanto com FHC quanto com Lula, além de ser professor universitário. Também já foi do Bradesco.
 
Os três têm em comum a prioridade de manter alto o superávit primário, ou seja, o pagamento da dívida para os bancos, em detrimento do país e povo. Tanto que já anunciaram cortes de despesas, priorizando reduzir o seguro desemprego, o abono salarial e as pensões por morte. Isso só para começar, pois um dos seus alvos principais será a Previdência Social, apesar do fator previdenciário, das regras draconianas para se aposentar e dos baixíssimos valores pagos aos aposentados e pensionistas.
 
Muitos daqueles que votaram no mal menor ainda não estão arrependidos, pois o fascismo de parte dos apoiadores de Aécio os amedronta. Como se ele fosse necessário para entregar cada vez mais o país nas mãos das transnacionais.
 
Pobre da raposa.
 
Afonso Costa
Jornalista

domingo, 9 de novembro de 2014

TODO APOIO À GREVE DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DA EMBRAER!

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* por Camila Souza, militante da UJC em São José dos Campos

Dia 5 de novembro São José dos Campos amanheceu paralisada. Cerca de mil e trezentos trabalhadores do segundo turno mudaram o lugar de suas atividades: dessa vez, o trabalho seria de base e ali, na porta da fábrica. E não deu outra. Ontem, dia 6, dez mil operários da maior empresa de aeronáutica do país entraram em greve por tempo indeterminado!
 
 
Desde que a empresa foi privatizada, há 20 anos, essa é a greve com maior adesão dos trabalhadores e que está durando mais tempo. Os pontos de reivindicação são:
 
1) reajuste salarial de 10%

2) contra o reajuste do convênio médico, que dobra o desconto do convênio nos holerites dos funcionários, além das consultas médicas agora serem cobradas

3) redução na jornada de trabalho

4) negociação os valores do Programa de Participação de Lucros (PLR)
 
Vale lembrar que no primeiro semestre desse ano, o lucro da Embraer cresceu 955% em relação ao mesmo período de 2013. Além disso, o governo federal dá isenção de impostos e beneficia a empresa com financimento público. Então, não aceitamos essa posição da Embraer em não atender os pedidos dos companheiros.
 
A União da Juventude Comunista se solidariza com essa greve da Embraer. Estaremos juntos lutando contra a precarização, rotatividade e descartabilidade da juventude trabalhadora. Queremos a ampliação dos direitos trabalhistas e estaremos lado a lado nas lutas com os companheiros!

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

CARTA DOS FUNCIONÁRIOS DO BB/GECEX-RJ

 AO SIND. BANCÁRIOS RJ E CONTRAF.
 
Há apenas uma semana, nós, funcionários do Prefixo 1778-7 do Banco do Brasil (Gecex Rio), fomos informados da assinatura de uma ampla reestruturação das redes GECEX e CSA. Não somente aqui, mas em vários locais pelo país, os funcionários serão obrigados a procurar outros prefixos para trabalhar. Desde então, vivemos em clima de profunda insegurança e ansiedade, porque o que está colocado no horizonte para a grande maioria dos funcionários dessas redes é a perda da comissão (que representa uma redução significativa do salário), ou a mudança para outros estados.
 
 
O prazo exíguo com que as vagas e comissões serão cortadas, tornando incerto o futuro de todos os funcionários, mostra como estas medidas foram ocultadas ao limite do absurdo, visando evitar reações pré-eleitorais. 
 
 
Não podemos aceitar o discurso de vários administradores das nossas Unidades de que temos que ficar felizes porque no Banco, diferentemente do Setor Privado, não existem demissões. Isso demonstra total descaso com a especialização profissional dos funcionários destas Unidades, cobrada quando das concorrências para o preenchimento desses cargos, mas que agora são constantemente lembrados de que o registro em suas Carteiras Profissionais é de Escriturário.
 
 
Esse discurso é totalmente contrário ao que foi feito pela presidenta reeleita, que em sua Carta para a CONTRAF/CUT afirmou:
 
 
 “O primeiro e fundamental passo foi a valorização dos bancários, recuperando o valor dos salários com aumentos reais, aumentando o valor da PLR, preservando o emprego e aumentando o quadro de funcionários, restabelecendo direitos que foram retirados dos trabalhadores por governos anteriores e incorporando reivindicações do movimento sindical.”
 
 
O Sindicato deu destaque, neste último ano, à luta contra o PL 4330 e a ampliação da terceirização. No Banco do Brasil o aprofundamento da concentração da área meio em poucos prefixos beneficia o processo de terceirização, como tem ocorrido com a área de Crédito Imobiliário. Hoje a maioria absoluta da área de apoio do Banco está concentrada em Curitiba, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo.  Isto representa um esvaziamento político e econômico do município do Rio de Janeiro, com a fuga de postos de emprego, de arrecadação de impostos, de contratação de empresas locais nos processos de licitação, etc.
 
 
No dia 30/10 realizamos uma reunião com todos os funcionários da Gecex Rio e definimos alguns encaminhamentos. Entendemos ser necessário fazer uma campanha de pressão sobre a direção do Banco, para que este processo seja SUSPENSO, até mesmo porque está anunciada a nomeação de um novo Presidente do Banco nos próximos meses (dias), consequentemente trazendo mudanças no quadro das Diretorias. Portanto, não cabe agora forçar uma reestruturação “a toque de caixa”, como esta que está sendo implementada. Enquanto não conseguirmos suspender essa reestruturação, é necessário que se garanta aos funcionários a permanência no seu prefixo atual, como quadro excedente, sem perderem suas comissões. 
 
 
Gostaríamos de chamar a atenção para o fato de que todas as vagas de área meio do Banco se encontram bloqueadas, já por conta das mudanças anunciadas para a cúpula do Banco a partir de janeiro de 2015, impedindo que os funcionários dos prefixos reestruturados busquem opções de recolocação fora da rede de agências e com salários mais próximos de sua realidade atual.
 
 
Por isso vimos agora chamar a Diretoria desse Sindicato, a exigir e promover medidas para que o Governo SUSPENDA os processos de reestruturações em andamento.  É fundamental que, nesse momento, a direção do Sindicato dos Bancários e a CONTRAF/CUT iniciem contatos com parlamentares e com o Governo, e que, inclusive, entrem com medidas judiciais que possam postergar o processo.
 
 
Solicitamos, também, que seja organizado um ATO na porta do prédio da Senador Dantas, ainda nesta primeira semana de Novembro, denunciando a reestruturação e chamando a solidariedade dos demais trabalhadores do prédio.
 
 
 
Funcionários da Gecex Rio em 30/10/14

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Carta aos brasileiros da esquerda

Carlos Latuff*
 
Afinal, Dilma Rousseff garantiu mais um mandato, derrotando o tucano Aécio Neves. Foi por um triz, como na eleição de 2010, ao enfrentar o também tucano José Serra. Naquele ano, como agora, votei em Dilma, não por apoiar a agenda de seu governo e sim por acreditar que, as coisas podem não melhorar mas certamente podem piorar, e no meu entendimento, Aécio Neves simboliza o retrocesso, o agravamento de um problema.
 
 
Meu voto não é um cheque em branco à Dilma e seu partido, nem tão pouco é um voto de confiança no sistema eleitoral. Com sua política de alianças com o que há de mais patife na política brasileira, o governo de Dilma Rousseff não me representa, como também não representa os indígenas e quilombolas, estes sequer citados nos debates e propagandas dos candidatos. Quero crer também que não representa os moradores de favelas cuja ocupação por tropas do exército foi autorizada pela presidenta. E acredito ainda que não representa a parcela do movimento social que não foi cooptada pela máquina do governo.
 
Claro que me agrada aos olhos ver os "coxinhas" se consumindo no próprio ódio ao saber que a "ditadura comunista do PT" terá um fôlego adicional de 4 anos, mas não tenho qualquer esperança de que o Partido dos Trabalhadores, com todos os compromissos firmados com o agronegócio, banqueiros, empresários, e mesmo a "guerra contra as drogas" de Washington, possa retomar as velhas bandeiras de luta do movimento social. O movimento social no Brasil precisa livrar-se dessa polarização entre PT e PSDB, livrar-se da cooptação, e trabalhar por uma alternativa à esquerda, uma alternativa que não busque como meta o governo e sim o poder. Acabar de vez com essa oligarquia, com o coronelismo, com o poder de famílias que possuem terras, emissoras de TV e rádio, e mesmo estados inteiros. São estes os verdadeiros detentores do poder no Brasil.
 
Quanto a mim, retorno agora à oposição de esquerda e continuo colocando minha arte a serviço do movimento social. A quem acredita que pelo meu voto crítico eu aderi ou capitulei ao governismo, peço que refreie sua leviandade e guarde essa carta como referência futura.
*Carlos Latuff é cartunista.
 
http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/414-batalha-de-ideias/52145-carta-aos-brasileiros-da-esquerda.html

Metástase da corrupção e eleição da hipocrisia

Na ausência de diferenças substanciais, o debate do 2º turno das eleições presidenciais tem sido dominado pelo esforço mútuo de desconstruir a idoneidade do adversário. As acusações recíprocas de malversação de dinheiro público e de aparelhamento do Estado não têm fim. A cada ataque corresponde um contra-ataque. O “mensalão” petista é rebatido com o “mensalão” tucano. O “propinoduto” da Petrobrás, com o generoso “trem da alegria” da Alstom. É cara e coroa.
 
Os candidatos defendem-se de maneira conhecida. Negam peremptoriamente qualquer malfeito e juram ir até as últimas consequências para apurar os fatos, definir as responsabilidades e punir os culpados, doe a quem doer. Até as pedras sabem que nada será feito. Os denunciados são homens-bomba. Se abrirem a boca, a casa cai.
 
O próprio conteúdo do debate revela a cumplicidade dos candidatos com o sistema da corrupção. Ao personalizar e particularizar os escândalos, associando-os a desvios de conduta individuais, lacunas na legislação e falhas nos procedimentos de fiscalização, o discurso sugere que a pilhagem do Estado decorre de problemas que poderiam ser corrigidas caso houvesse vontade política. Enquanto falam, Dilma e Aécio sabem que mentem. Não existe um chefe político brasileiro que não tenha à sua sombra a figura sinistra e misteriosa do “operador” responsável pelas finanças da campanha. Nas altas esferas do poder, o homem do dinheiro é conhecido e goza de grande prestígio entre os pares.
 
Travestida de guardiã dos interesses gerais da população e defensora da moralidade, a mídia é parte orgânica do sistema de corrupção. Sem um sistema venal e degradado de formação da opinião pública não haveria corrupção generalizada como modo de funcionamento do sistema político, pois não haveria como circular (ou deixar de circular), no momento conveniente, as denúncias, dossiês, intrigas, insinuações, ameaças e chantagens que constituem a munição pesada da guerra entre as camarilhas que disputam o poder do Estado.
 
A luz intensa lançada sobre os escândalos de corrupção não tem a finalidade de elucidar o problema, mas, antes o contrário, objetiva desviar a atenção para aspectos secundários e personagens de menor relevância, a fim de ofuscar as relações que explicitam as engrenagens que subordinam os homens de Estado à lógica dos grandes e pequenos negócios. Ventríloqua de interesses escusos que permanecem sempre na penumbra, a grande mídia manipula a opinião pública com informações parciais, distorcidas e descontínuas, gerando uma visão apocalíptica e moralista do problema. Ao reduzir as causas do assalto aos cofres públicos à fraqueza de caráter, a corrupção é naturalizada. A imprensa marrom – quase a totalidade de nossa imprensa – esbalda-se e transforma a indústria da chantagem num grande negócio. “Se ninguém tem compostura, então, nos locupletamos todos” – uma moral que calha bem com a degeneração da res pública.
 
Se houvesse realmente vontade política de enfrentar a corrupção, seria preciso mostrar à população seu caráter sistêmico e desnudar os interesses de classe que lhe dão sustentação. Para tanto, bastaria não desperdiçar as raras oportunidades abertas pelos homens bombas que quebram o pacto de silêncio e expor à população a fisiologia que rege o aparelho digestivo do sistema político brasileiro.
 
A propósito, os depoimentos recentes do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef são pérolas que deveriam ser bem aproveitadas. Seus testemunhos ao Ministério Público expõem com requintes de detalhes como funcionava e quem comandava o esquema de desvio de recursos na Petrobras. As primeiras lições são reveladoras:
 
a) A corrupção é um sistema que aprisiona os partidos políticos da burguesia e os aparelhos de Estado aos interesses do grande capital. Por trás da quadrilha que se apoderou de cinco diretorias da Petrobras, encontram-se os partidos da base de sustentação do governo federal e treze grandes empresas, entre as quais as principais empreiteiras do país - OAS, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior e Camargo Correia;
 
b) O centro nervoso que comanda as grandes negociatas encontra-se no controle do Legislativo pelo poder econômico e no controle do Executivo pelo Legislativo. Ainda no começo do governo Lula, em 2004, uma greve parlamentar de noventa dias forçou o presidente a nomear Paulo Roberto Costa, com mandato meticulosamente definido para arrecadar recursos para os partidos da base. É a prova dos nove de que a chamada “governabilidade” requer necessariamente conivência e cumplicidade incondicionais com a corrupção;
 
c) A corrupção é um sistema que envolve todos os partidos da ordem, mesmo os da oposição. A propina paga a altos cardeais do PSDB para que colaborassem na operação abafa da CPI da Petrobrás no Senado Federal deixa patente que ninguém escapa aos tentáculos da corrupção. A guerra de acusações recíprocas é uma farsa. No jogo do toma lá dá cá, a arte da política transforma-se na arte da malandragem e da impostura.
 
O debate eleitoral da corrupção não pode ser levado às últimas consequências porque a população não pode saber que a corrupção é um pressuposto do sistema representativo. Pois a promiscuidade entre o público e o privado – seu determinante histórico – é uma das pedras angulares da organização do Estado brasileiro.
 
Fonte:www.correiocidadania.com.br